Por Renato Mendes
Você deve ter visto que na semana passada o Google anunciou uma série de novos serviços e produtos para o Brasil. Coisas incríveis como Google Assistente em português, o Meu Negócio para Google Maps ou o Waze Carpool, novo sistema de caronas da companhia.
Toda vez que uma grande empresa faz um anúncio como este, me lembro da história dos tubarões e das rêmoras. Estes pequenos peixinhos sobrevivem graças aos restos de comidas deixados pelos predadores. As rêmoras aguardam pacientemente que os tubarões finalizem suas presas e então se alimentam das sobras. Os biólogos chamam isso de comensalismo e garantem que a relação não é prejudicial aos tubarões. Já para as rêmoras, agir desta forma é uma questão de sobrevivência.
No ecossistema de startups, é tudo muito parecido. São incontáveis os casos de empresas que nasceram a partir de oportunidades deixadas de lado por grandes empresas. Enquanto muitos tubarões estão focados nas grandes presas, existe todo um universo deixado de lado que está pronto para ser literalmente engolido por pequenos peixinhos. Enquanto o Open Table cresce nos Estados Unidos fazendo reservas para clientes em bons restaurantes, o negócio principal ainda é a comida e bebidas vendidas por centenas de dólares. Organizar as mesas é trabalho para rêmoras. Bons empreendedores não têm vergonha disso. Eles são como rêmoras numa versão turbinada, craques em encontrar e devorar as sobras. Sobras que podem valer milhões de reais em alguns casos.
A diferença é que algumas startups são mais ambiciosas que pequenas rêmoras. E seu trabalho pode sim ameaçar grandes predadores. Elas começam comendo pelas beiradas e, quando os tubarões percebem, já estão disputando as principais presas de igual para igual com os reis do mar. Não seria exagero dizer que a Netflix era apenas uma rêmora dos grandes estúdios de Hollywood há alguns anos. Olha quem manda hoje nessa história.
Os biólogos se surpreenderiam ao perceber que o mesmo raciocínio vale para os predadores. Aqui, de vez em quando, eles também se defendem, virando o pescoço para abocanhar algumas rêmoras. O anúncio da semana passada do Google só comprova isso. Em uma manhã, este tubarão branco pode ter acabado com algumas dezenas de startups. Qual deve ser o impacto do lançamento da Waze Carpool no Blá Blá Car e outros aplicativos de carona espalhados por aí? E o que dizer do estrago que o Meu Negócio do GMaps pode fazer no Wix e seus similares? Dez minutos para montar uma página, Google? Você só pode estar de brincadeira. Pobres rêmoras.
A história mostra que, no mundo dos negócios, empresas não aceitam papéis fixos independentemente de seu porte. Rêmoras, por sua vez, não querem mais ficar apenas com as sobras. Tubarões, por sua vez, vão sim atacar peixinhos mais ambiciosos. O jogo muda muito rapidamente, quem era protagonista hoje, vai ser coadjuvante amanhã – e vice-versa.
O bom é que toda história tem dois lados. A cada movimento dos grandes predadores, também surge uma infinidade de novas oportunidades prontas para serem ocupadas por pequenas rêmoras com sonho grande. Vencerá quem for capaz de ler o cenário e adequar sua estratégia com mais rapidez e precisão.
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Renato Mendes é finalista do Prêmio ABComm 2017 na categoria Profissional de Marketing Digital. Vote no https://www.abcomm.org/vota-marketing.php
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