Para navegar num ecossistema cada dia mais veloz, cheio de mudanças, “Cultura de Aprendizagem” e “Inovação Contínua” são os dois aspectos-chave da organização na nova economia. A transformação digital imprime um ritmo acelerado, um modelo de trabalho alternativo, requer novas atitudes e, consequentemente, uma abordagem diferente de cultura corporativa.
Essa nova forma de fazer negócio está mudando o centro de crescimento na economia de consumo. Um exemplo disso são as vendas das 100 maiores indústrias que têm decrescido ou permanecido estável nos últimos anos enquanto as categorias em si têm crescido de forma significativa, conforme informou a empresa de pesquisa de mercado IRI – Delivering Growth. Isso quer dizer que uma série de novos entrantes aparecem todos os dias e estão, de fato, tirando uma fatia importante das grandes marcas. Empresas digitais, ágeis e que operam de forma oposta a burocracia, silos e a visão de escassez da maior parte das empresas tradicionais.
Inovação está intrinsecamente ligado a uma cultura de aprendizagem, uma abordagem de teste, acertos, de aprender e motivar as pessoas a pensarem diferente. Mas como transformar esse mindset fixo para um mindset de inovação?
Segundo estudo chamado “Confiança e Produtividade no Brasil”, realizado pelos pesquisadores Marco Tulio Zanini e Carmen Migueles, professores doutores da Ebape/FGV e da Fundação Dom Cabral, a falta de confiança dentro e fora das organizações cria uma distância muito grande entre quem está no topo, fazendo o planejamento de negócio, e quem executa no dia a dia. Essa realidade afeta a nossa produtividade e nos derruba nos rankings globais de inovação, uma vez que a desconfiança faz com que gestores não dividam metas e não acreditem que as pessoas sejam capazes de dar conta do recado.
Sendo assim, depois de 16 anos de estudo, descobriram que a baixa produtividade nas empresas brasileiras está mais relacionada a fatores culturais do que a falhas na educação formal. Uma gestão baseada em controles excessivos inibe a criação de algo realmente novo, gerando os “passivos organizacionais” que consomem tempo, energia e que resultam em perdas de competitividade e produtividade.
Para reverter esse cenário alguns aspectos importantes precisam ser repensados:
1º – Confiança se constrói de cima para baixo. Os líderes precisam exercer cada vez mais o papel de mentores e menos de “chefes”. Mentores para guiar, dar o norte de onde se quer chegar e confiar para que os times consigam descobrir os caminhos por si próprios. Além disso, requer conhecer seu time e gostar de pessoas para entender suas motivações reais, suas habilidades e competências para colocá-las para atuar onde podem entregar seu melhor e consequentemente serem mais felizes e produtivas.
2º – Inovar é olhar pra frente e descobrir novos caminhos. É se desafiar a entregar da melhor forma possível para seu cliente. Menos sobre acompanhar um competidor e sim para a jornada do seu cliente e como você pode ser cada dia mais relevante e presente nessa jornada. Aqui entra o conceito de “consumer centric”, colocar seu cliente no centro de todos os processos e decisões.
3º – A forma como organizamos os times precisa ser repensada. Não conseguimos mais tratar os assuntos por departamentos pois, cada vez mais, as competências estão misturadas e são quase impossíveis de serem pensadas isoladamente. O marketing, por exemplo, está cada dia mais colado em vendas, RH e tecnologia. Além disso, os silos geram um processo longo e muitas vezes improdutivo de alinhamentos e aprovações. É preciso repensar as estruturas numa visão mais ágil e auto organizada.
4º – Implementar metodologia ágil de gestão tem como conceito central a aprendizagem contínua. Uma filosofia que era aplicada essencialmente em núcleos de tecnologia passa a ser um modelo bastante viável para outras frentes organizacionais. Tratam-se de pequenas células de trabalho com autonomia, foco e entregas com ciclos rápidos e mindset de MVP (mínimo produto viável). Menos sobre a busca da solução perfeita, e mais sobre testar hipóteses, acompanhar dados e resultados, implementar e evoluir constantemente, e compartilhar conhecimento.
5º – Por fim, mudança de cultura não se faz com palavras e sim com ação. Ao mudar a maneira como nos comportamos e agimos, influenciamos comportamento de outros e assim começamos a criar uma nova cultura.
Em resumo, para construir uma cultura de aprendizagem e inovação contínua, é fundamental ter um ambiente de confiança, onde as pessoas possam experimentar, crescer e serem elas mesmas e onde possam alimentar as duas necessidades básicas: sentimento de crescimento e senso de contribuição.
Artigo publicado originalmente no SuperVarejo