Painéis do festival apontam mais do que uma tendência, uma necessidade em tempos de pandemia e no pós-covid-19: a urgência dos diálogos transparentes e empáticos entre colaboradores
Ao longo das últimas edições do SXSW, o destaque para a importância do elemento humano nas organizações, e sua relevância como força geradora de mudança, tem aumentado de forma significativa. Em outras edições, tivemos painéis transformacionais com Brené Brown e Esther Perel, que trabalharam temas relacionados ao que se popularizou no mercado como as “soft skills”.
O termo “soft skills” é utilizado para se referir ao conjunto de habilidades de relacionamentos interpessoais que fazem contraposição ao viés demasiadamente técnico, as chamadas “hard skills”. Ao longo dos últimos anos, os profissionais estão compreendendo melhor quais são as “soft skills” e estão buscando maneiras para desenvolvê-las.
A pandemia, sem dúvida, acelerou esse processo de conscientização. O motivo é claro: uma vez que toda a pressão, estresse e traumas decorrentes de seus efeitos geraram impactos que demandam uma atenção diferente de todos em relação a todos. Colocamos dessa forma, pois não se trata apenas de líderes em relação aos seus liderados. Nós todos estamos no limite, e isso exige mais empatia em todas as nossas interações e relações.
A empatia parte de um dos pontos fundamentais do comportamento humano: o desejo de compreender e de ser compreendido. Todos nós temos histórias para compartilhar, e também queremos ouvir e conhecer as histórias dos outros. Contudo, esse desejo de compreender e ser compreendido, muitas vezes, se perde nos ambientes profissionais. Por isso, precisamos falar sobre a evolução da apatia para a empatia nas empresas.
Um dos primeiros aspectos nesse ponto é destacado na sessão “The Future of Emotion AI & The Empathy Economy”, que se resume na importância que os líderes têm de assumir o seu papel protagonista e trabalhar com comunicações transparentes e frequentes.
Essa demanda da liderança deve ser compreendida como uma forma de garantir ambientes emocionalmente seguros para as pessoas em um momento de alta incerteza e volatilidade, sabendo que a falta de informações cria ambiente fértil para todo o tipo de desconfiança, que mina ainda as relações e a produtividade no dia a dia.
Conforme muito bem colocado pelo Andy Chabot, VP de A&B da Blackberry Farm, no painel “Leading Safely + Motivating Empathetically”: “Quando não damos informações suficientes para as pessoas, as lacunas são preenchidas por opiniões.”
Vale destacar também que, no contexto de ambientes remotos, temos uma nova dinâmica de trabalho, mais distribuída, o que dificulta a circulação de informação e diminui nossa capacidade de percebermos e compreendermos o outro da melhor forma possível.
Quando trabalhamos em um mesmo ambiente físico, todos os dias passamos longos períodos ao lado das mesmas pessoas. Com isso, temos um ambiente mais fértil para notar mudanças de comportamento que indiquem que um colega está passando por uma situação difícil, seja no âmbito profissional ou pessoal. A proximidade física facilita o acesso à informação de modo mais fluído, pois a troca espontânea, natural, acontece com frequência.
Na realidade atual, estamos todos fisicamente distantes e, em muitos casos, também distantes emocionalmente, pois todos estão lidando com estresses e traumas emocionais. As preocupações com a sua saúde e de seus familiares e amigos, o homeschooling, a solidão do distanciamento social, as perdas. Tudo isso está acontecendo o tempo todo com todos por mais de 365 dias.
Estados de estresse e trauma alteram o fluxo de adrenalina no nosso corpo, diminuem a nossa capacidade de lidar com pensamentos complexos e tomar decisões racionais. Com tanta coisa acontecendo no mundo e nas nossas vidas particulares, ter foco e entregar resultados no nosso ambiente profissional se tornou um dos maiores desafios que precisamos endereçar como indivíduos e como grupo.
A boa notícia é que na sessão “The Empathetic Workplace” temos praticamente uma aula com alguns passos que podemos seguir para acolher colegas de trabalho de forma mais empática. Algo que chama muito a atenção é quando Katharine Manning explica sobre a “fadiga de compaixão”. E o que significa isso? Precisamos reconhecer em nós mesmos os sinais de que também estamos no limite e utilizar da rotina de autocuidado como uma estratégia.
Ainda, não podemos julgar a realidade dos outros a partir da nossa própria – e aqui um hiperlink com o Websummit, que ocorreu em dezembro de 2020. Um dos tópicos bastante quentes foi em relação aos novos modelos de trabalho, mais flexíveis, que no futuro permitirão que as pessoas escolham suas melhores estratégias em termos de balancear o home office com o office.
Essa tendência de flexibilização envolve diferentes prismas em sua análise, como os aspectos financeiros, legais e competitivos. No entanto, vale reforçar que flexibilidade pode ser uma boa forma de ter mais empatia pelas pessoas e compreender que o modelo de trabalho ideal para cada uma será uma escolha muito pessoal, influenciada por aspectos da sua vida privada.
Finalmente, fazendo um paralelo para as marcas, com um hiperlink para o painel “Building Digital Trust in a Transformed World”, que teve a participação de Neesha Hathi, vice-presidente executiva e chief digital officer da Charles Schwab. Ela destacou algo que executivos de marketing já têm observado e colocado em prática: o poder das comunidades, a importância da consistência entre falar e agir, e o diálogo mais empático, compreendendo as necessidades dos seus públicos, sintetizam as novas regras do jogo.
“Para ganhar a confiança dos millennials, a consistência das ações ao longo do tempo é fundamental. Mas é preciso também entender de verdade as necessidades e desejos dos investidores jovens. E não tratá-los como um grupo homogêneo”, destacou Neesha Hathi. Mais uma vez, a empatia reina como habilidade necessária.
Entretanto, numa era de avanço das tecnologias, em que a comunicação “olho no olho” tem sido substituída cada vez mais por mensagens de texto, áudio ou através de telas, será que a honestidade e a empatia são habilidades que correm risco de extinção no futuro?
Fechamos este artigo com uma frase de Marcus Samuelsson, chef e restaurateur, consagrado pelo restaurante de comfort food Red Rooster no Harlem, em Nova Iorque: “espero que empatia seja a palavra de 2021. Temos privilégio e oportunidade de segurar a barra e possivelmente vamos crescer. Mas a maioria das empresas do setor, não. Então, como eu consigo ajudar o restante da comunidade? Como eu uso meus recursos para ajudar um parceiro que precisa navegar nessa situação?”.
Este artigo foi escrito com minha parceira de aceleração, Lilian Cruz, de forma totalmente virtual, utilizando ferramentas de colaboração e muita empatia.
Artigo originalmente publicado pela HSM Management em:
https://www.revistahsm.com.br/post/a-hora-h-do-sxsw-empatia-e-transparencia